O baixo volume de água nos reservatórios do Rio
Grande do Norte não vai impedir a realização do carnaval nas cidades que
tradicionalmente promovem o evento. As prefeituras de Macau e Caicó confirmam a
programação para os quatro dias de folia, mas apenas a primeira cidade terá
reforço de 30% no abastecimento fornecido pela Companhia de Águas e Esgotos do
Rio Grande do Norte (Caern). O Ministério Público do Estado (MPRN) não recomendou a suspensão da festa, mas o Comitê
de Combate à Seca deve discutir o assunto. Segundo o MPRN, a cidade de Apodi,
na região Oeste, também confirmou programação para os dias de Momo.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), Macau tem população estimada em 31 mil pessoas. Esse
número, durante o carnaval, segundo estimativas da Prefeitura Municipal,
aumenta mais de 900% e a cidade recebe aproximadamente 300 mil visitantes. Para
atender essa demanda, a Caern vai ampliar a oferta diária de água de 11.760
metros cúbicos para 15.288 metros
cúbicos. Ou seja: serão disponibilizados 3.528 m³ a mais, diariamente.
Atualmente, a maioria dos reservatórios do Estado
encontra-se em situação crítica com os índices abaixo dos 20% da capacidade
total. Oito cidades (Tenente Ananias, São Miguel, Paraná, João Dias, São
Francisco do Oeste, Antônio Martins, Luís Gomes e Carnaúba dos Dantas) estão
situação de colapso no abastecimento e mais 146 municípios estão em estado de
calamidade.
A situação se arrasta há mais de três anos e gera
preocupação entre os gestores do sistema hídrico do Estado. No entanto, a falta
de água e o risco de mais cidades entrarem em colapso não sensibilizaram MPRN e
parte dos gestores municipais. Até o momento, nenhum promotor publicou
recomendação sobre o uso racional da água durante o carnaval. Da mesma forma,
Caern ou Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) não
emitiram orientações formais.
Mas há o alerta e pedido de parcimônia por parte da
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). “Não somos
responsáveis por emitir recomendações formais, no entanto, é preciso ter bom
senso nas regiões onde os reservatórios estão com níveis críticos de água.
Deve-se ter bom senso para escolher o melhor caminho diante dessa situação”,
recomendou o chefe do setor de meteorologia da Emparn, Gilmar Bistrot.
Já o titular da Semarh, Mairton França, informou
que, apesar do cenário crítico, não há uma recomendação formal direcionada aos
prefeitos sobre como economizar água durante o carnaval. O assunto poderá ser
discutido na primeira reunião deste ano do Comitê de Combate à Seca. O encontro
está previsto para a primeira quinzena de fevereiro, ou seja, pode ocorrer às
vésperas do carnaval que, este ano, começa no dia 14 de fevereiro. “O carnaval
deve ser tema durante o encontro. Acho complicado realizar a festa em cidades
que estão em situação preocupante, como Caicó”, colocou.
A maior cidade do Seridó prepara-se para, mais uma
vez, realizar um dos carnavais mais concorridos do Estado. Segundo o prefeito
Roberto Germano, a expectativa é a de Caicó, que tem população estimada em 67
mil pessoas, receba um público superior a 120 mil visitantes durante os quatro
dias de festa. Ou seja, a população vai dobrar no carnaval. “O investimento
será na ordem de R$ 180 mil e estamos com tudo organizado”, disse Roberto.
Segundo a Caern, a cidade consome, diariamente,
aproximadamente 12 milhões de litros de água por dia. O açude Itans está com
9,13% de sua capacidade. Com os
visitantes, esse consumo vai aumentar, mas a Caern não vai aumentar o
abastecimento da cidade. O prefeito garante que o desequilíbrio entre a oferta
e demanda não afetará o evento. “Ano passado tivemos esse mesmo problema. O
Itans estava com a mesma quantidade de água e não houve problemas”, destacou o
prefeito.
Ano passado, o MPRN instaurou inquérito civil
para acompanhar a aplicação de recursos
públicos na realização da festa momesca em Caicó. Os promotores queriam saber,
entre outros detalhes, qual o montante de verba pública seria destinado ao
pagamento das despesas geradas com a festa, bem como se havia um prognóstico
sobre o fornecimento de água durante os quatro dias de folia. Este ano, nada
foi feito.
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