Depois de quatro anos de seca, o que se tem visto no
interior do Rio Grande do Norte é um quadro de desolação. Percorrendo o
interior do Estado, o que se encontra são carcaças de animais mortos nas
margens das rodovias por falta de água e alimento, grandes reservatórios secos
e cidades inteiras sendo abastecidas por carros-pipa. Nas áreas rurais, a
situação é ainda mais complicada, tendo em vista que, mesmo recebendo
abastecimento dos carros-pipa, a dificuldade para manter os animais vivos é uma
luta constante.
O último relatório divulgado pela Secretaria de
Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH) revela que 40% dos
reservatórios do Rio Grande do Norte estão secos ou em volume morto e, ainda,
que a reserva de água do Estado está em 20% – o percentual corresponde à média
dos níveis dos reservatórios que ainda oferecem água para o consumo humano.
Mesmo com a tentativa dos governantes em promover
ações que possam pelo menos minimizar a situação, essas ações têm efeito muito
pequeno, como a perfuração, recuperação e instalação de poços. Embora o índice
de poços perfurados anunciado seja representativo, o número de poços em
funcionamento não consegue atender a demanda.
O titular da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
dos Recursos Hídricos, Mairton França, declarou que as intervenções estão sendo
feitas principalmente nos municípios mais atingidos pela estiagem. “Estamos
selecionando os municípios com critérios técnicos e não políticos, priorizando
que a água chegue às localidades mais dispersas e necessitadas”, disse Mairton.
Segundo ele, a Semarh já realizou a locação de 420
poços, sendo 250 no Alto Oeste e 170 no Seridó. Dos 300 poços perfurados, já
foram realizados testes de vazão em 250 e, mesmo assim, nem todos estão em
funcionamento. Mairton declarou que a Semarh agora conta oito perfuratrizes em
funcionamento e cada uma delas cava dois poços por dia. “A nossa expectativa é
que até dezembro a gente consiga perfurar 500 poços no interior do Estado.”
Apesar dessas tentativas e o fato de ao longo de
várias décadas o abastecimento dos municípios do Rio Grande do Norte estar
condicionado ao nível dos reservatórios, a situação tem se agravado com a longa
estiagem.
A situação, na grande maioria deles, é preocupante.
Na região do Alto Oeste, o cenário é chocante. O açude Bonito, principal
reservatório do município de São Miguel, está seco desde janeiro. Água, só
através de carros-pipa. Em Pau dos Ferros, a situação não é diferente. A
solução tem sido a instalação da adutora que recebe a água que vem da barragem
de Santa Cruz, em Apodi. Mesmo assim, a quantidade oferecida não atende a
necessidade da população.
‘El Niño’ pode trazer mais um ano de seca
Para complicar, o “El Niño” está aí. Os principais
centros de análise e monitoramento do clima no planeta já concordam com todas
as condições técnicas para o estabelecimento do fenômeno. Os efeitos no Brasil
são o aumento da chuva na região Sul e a diminuição da chuva no Nordeste, o que
pode significar mais um ano de seca.
A esperança dos produtores rurais e representantes
de entidades rurais é de que no próximo ano a situação melhore com um período
chuvoso satisfatório, mas essa esperança vai diminuindo a cada previsão
meteorológica. Recentemente, o presidente Eduardo Sávio Martins, da Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), já havia dado o alerta
sobre a presença do “El Ninô” e a possibilidade de mais um ano seco.
Agora, o especialista em climatologia José Espínola,
da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), confirma os efeitos do
fenômeno, que, segundo ele, está com incidência entre moderada a forte e tem
causado a diminuição da ocorrência das chuvas. Quanto às previsões para o
próximo ano, o especialista foi direto. “Caso o quadro não se reverta até o mês
de dezembro, é bem provável que o período chuvoso de 2016 seja prejudicado, mas
podem ocorrer algumas mudanças, já que estamos tratando de um fenômeno
relativamente novo que tem causado surpresas até a nós meteorologistas”,
afirma.
Para o meteorologista Gilmar Bristott, ainda é cedo
para fazer esse tipo de previsão. Segundo ele, muitas mudanças podem ocorrer
até o início do período chuvoso, para se fazer agora qualquer tipo de previsão.