A perda do status de país livre do sarampo representa
um retrocesso para o Brasil e as Américas, segundo avaliação da vice-presidente
da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai.
O anúncio de que o país vai perder o certificado de
eliminação da doença foi feito pelo próprio Ministério da Saúde esta semana,
após a confirmação de um caso no Pará, no fim de fevereiro.
“É triste ver voltar uma doença que já foi uma das
principais causas de mortalidade infantil. A vacinação contra o sarampo mudou a
mortalidade infantil, fez cair a mortalidade infantil.
Conversando com um grupo de médicos como eu, que vi o
sarampo, assinei muito atestado de óbito de criança que morreu por sarampo, ver
a doença voltar é, sem dúvida alguma, um retrocesso que não precisava existir”,
disse.
A OMS destaca que o índice de imunização da segunda
dose da vacina contra o sarampo na Europa é de menos de 95%.
A pediatra, que atua há mais de 30 anos na área de
imunização, defende estratégias com foco na comunicação com a população e na
capacitação de profissionais. Ela lembra que, apesar das baixas taxas de
cobertura, a dose contra o sarampo sempre esteve disponível nos postos de
saúde.
“Todos os anos a gente tem a campanha de atualização
da caderneta de vacinação. Antigamente, era uma campanha só para o sarampo.
Agora, passou a ser um dia para atualizar todas as doses em atraso.”
A especialista afirma que é necessário resgatar a
memória sobre a importância da vacina na imunização e a compreensão de que,
mesmo não tendo a doença, se parar de vacinar, o mal pode voltar.
“Parece que as pessoas hoje prestam mais atenção em
fake news, numa informação que não é verdadeira, e não valorizam a doença.
Antigamente, quando o ministério fazia uma campanha contra o sarampo, as
famílias iam correndo porque viam os amiguinhos dos filhos morrerem ou
adoecerem por sarampo. Hoje em dia, ninguém mais vê sarampo.”
REVERSÃO
DO QUADRO
Para Isabella Ballalai, o Brasil tem chance de
reverter o quadro de surto de sarampo e reconquistar a condição de país livre
da doença. Segundo ela, o brasileiro, em geral, acredita nas vacinas, mas
precisa ser mais bem informado e ter maior facilidade no momento de acessar a
dose.
A pediatra destaca que o país conta atualmente com
cerca de 36 mil salas de vacinação na rede pública, mas o funcionamento desses
locais precisa ser revisto.
“Os postos ainda funcionam em horário comercial e
param para almoço. Precisamos rever isso porque as famílias trabalham. Na
realidade, o que a gente precisa é parar o que está sendo feito e rever como
fazer. Vacina a gente tem. Sala de vacinação a gente tem. Brasileiros que
acreditam em vacinação são maioria. O antivacinismo não é um problema grande no
Brasil, é muito pequeno e não é esse o motivo que faz com que as pessoas não se
vacinem.”
VACINAÇÃO
A vice-presidente da SBIm reforçou que a vacinação
contra o sarampo, em particular, não é prevista apenas para crianças – adultos
até 49 anos também precisam ser imunizados. No Amazonas, segundo ela, a maior
parte dos casos foi identificado em adultos, não em crianças.
Esse, na avaliação da especialista, é outro grande
desafio na busca pelo certificado de eliminação da doença.
“A gente precisa ter a população adulta vacinada. O
ministério oferece a vacina gratuitamente para eles. Essa comunicação é a mais
difícil de ser entendida – fazer essas pessoas irem tomar vacina. Não é vacina
de criança, é vacina de todos nós. O sarampo é mais grave em adultos do que em
crianças, e o adulto ainda transmite para a criança que não está vacinada. A
gente precisa vacinar, pelo menos, todos até os 49 anos de idade”, afirmou.
Números
De 1º de janeiro a 19 de março deste ano, foram
confirmados laboratorialmente 28 casos de sarampo em dois estados do Brasil,
sendo 23 no Pará e cinco no Amazonas. Os casos, de acordo com o Ministério da
Saúde, estão relacionados à cadeia de transmissão iniciada no país em 19 de
fevereiro do ano passado.
Durante todo o ano de 2018, foram confirmados 10.326
casos de sarampo, sendo 9.803 no Amazonas, 361 em Roraima e 79 no Pará. O pico
da doença foi registrado em julho passado, quando 3.950 casos foram
contabilizados.
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