segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A SECA CASTIGA, MAS MEDIDAS AJUDARIAM A DIMINUIR EFEITOS

No mês passado o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) apresentou o Primeiro Relatório de Avaliação e as expectativas, são de que o semiárido sofra ainda mais no futuro com o problema da escassez de água, segundo os pesquisadores do órgão.
Mesmo com estudos científicos mostrando que os problemas podem ficar ainda mais intensos para o sertanejo, especialistas locais acreditam em melhora e na capacidade de adaptação do povo ao semiárido.
O professor de Meteorologia e Climatologia da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), José Espínola Sobrinho, explica que o PBMC reúne pesquisadores de todo o mundo. Ele fala que as estimativas apresentadas mostram que se a temperatura no Nordeste brasileiro pode crescer entre 1ºC e 4ºC em 100 anos, o que dependerá de vários fatores, entre eles a poluição.
"Nesse tempo, se houver o aumento de 4ºC as consequências serão rigorosas. Seria interessante que o governo encarasse isso de uma forma mais séria, com medidas e ações", afirma.
No entanto, Espínola também cita que há outra linha de pesquisa que defende que o aumento na temperatura faz parte de um ciclo natural do planeta e que a interferência humana não é a grande responsável pelas mudanças climáticas.
Há cerca de quatro anos o Rio Grande do Norte enfrenta uma grande seca. Segundo Espínola, os efeitos podem não ser sentidos em Mossoró, pois atinge principalmente as cidades que ficam mais no Centro do Estado. "Este ano choveu em Mossoró 475 mm, mas no Estado todo praticamente não choveu. A maioria está em situação gravíssima", ressalta.
O professor explica que há cinco tipos de classificação que ajudam a compreender o período chuvoso no Rio Grande do Norte: muito seco, seco, normal, chuvas e muitas chuvas. Cerca de 105 municípios potiguares estão incluídos nos níveis abaixo do normal, sendo 67 inseridos na categoria de inverno muito seco e 38 tiveram período de chuvas considerado seco. Foram contabilizadas ainda 34 cidades com período de chuvas considerado normal, 9 classificados com chuvas e apenas Monte Alegre apresentou muitas chuvas no período, chegando a marca 1.129mm este ano.

Espínola afirma que os períodos de seca no Estado acontecem a cada 12 anos, em média. Os menores registros de precipitação pluviométrica acontecem no final de uma década para outra. "A seca também está associada às explosões solares. O ciclo solar apresentou intensas atividades entre 2012 e 2013 e deve entrar em declínio a partir do próximo ano", explica o pesquisador.
Para 2014, a expectativa do professor é que o período de chuvas comece a voltar ao normal, mas ainda será pouco tempo para recuperar os anos de seca, sendo necessário mais uns dois ou três anos seguidos de bom inverno para que aconteça uma cheia novamente.
A má distribuição da atividade pluviométrica também é outro fator de contribui para a estiagem. Durante este ano, até o momento, caíram em Mossoró 475mm de chuva, sendo que 200mm foram registrados em menos de 24, durante uma chuva que caiu em abril.

CONVIVÊNCIA

Para o professor do Departamento de Biologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e diretor do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Meio Ambiente (CEMAD), Ramiro Camacho, faltam políticas públicas mais eficientes para garantir a convivência com a seca.
"A convivência pode ser minimizada com ações relacionadas à adaptação ao semiárido. Existem tecnologias que possibilitam isso e que devem estar a nossa disposição", relata.
Ele acredita que a distribuição de água em lata ou em carros-pipas não deve ser o foco para melhorar a vida de quem convive com a estiagem. É preciso muito mais investimentos ideias que possibilitam a adaptação como o sistema de cisternas de placas e barragens subterrâneas. "Onde existe esse sistema a qualidade de vida das pessoas melhora muito", afirma.
Uma das alternativas de enfrentamento à seca, segundo Camacho, seria investir em espécies da flora e fauna locais, que já são adaptados ao clima. O professor cita ainda o controle das queimadas, construção de barragens, barramento de assoreamento, perfuração de poços e cacimbões, reuso da água, entre outros como instrumentos que podem ajudar o potiguar a conviver e se adaptar melhor ao clima dessas terras. Seria importante ainda uma educação ambiental voltada para o convívio no semiárido.
"O Estado se dá ao luxo que a Petrobras perfure poços e, caso encontrem água, fechem com concreto", diz. Para Camacho, esses poços poderiam servir para atender a população local.
"Faltam políticas públicas voltadas para a nossa realidade. Às vezes acontece de fazer ações de acordo com outra realidade que não é a nossa. Tem que ser algo direcionado", enfatiza.
Outras alternativas seriam estimular a agricultura familiar e o manejo sustentável da caatinga. "Temos muitos exemplos de que isso funciona, um deles é o de produtores da Chapada do Apodi", diz Ramiro Camacho.
O professor acredita que é necessário também um novo olhar sobre o semiárido. "É um vício de várias gerações ver o semiárido nordestino como sinônimo de miséria e pobreza. É importante mostrar o potencial e defender os recursos naturais que são importantes", destaca.
A adequação do potiguar ao clima também passa pelas fontes de energia. Para o pesquisador, a energia eólica não é uma fonte totalmente limpa e que a solar e a biomassa seriam alternativas mais corretas, principalmente para uma cidade como Mossoró. Com a biomassa, poderiam ser reaproveitados restos de podas e também ajudar a diminuir o desmatamento. Já a energia proveniente do sol é dificultada por causa dos preços das placas que ainda não é acessível a grande população.


Nenhum comentário:

Postar um comentário