No mês passado o Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas (PBMC) apresentou o Primeiro Relatório de Avaliação e as
expectativas, são de que o semiárido sofra ainda mais no futuro com o problema
da escassez de água, segundo os pesquisadores do órgão.
Mesmo com estudos científicos mostrando que os
problemas podem ficar ainda mais intensos para o sertanejo, especialistas
locais acreditam em melhora e na capacidade de adaptação do povo ao semiárido.
O professor de Meteorologia e Climatologia da
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), José Espínola Sobrinho,
explica que o PBMC reúne pesquisadores de todo o mundo. Ele fala que as
estimativas apresentadas mostram que se a temperatura no Nordeste brasileiro
pode crescer entre 1ºC e 4ºC em 100 anos, o que dependerá de vários fatores,
entre eles a poluição.
"Nesse tempo, se houver o aumento de 4ºC as
consequências serão rigorosas. Seria interessante que o governo encarasse isso
de uma forma mais séria, com medidas e ações", afirma.
No entanto, Espínola também cita que há outra linha
de pesquisa que defende que o aumento na temperatura faz parte de um ciclo
natural do planeta e que a interferência humana não é a grande responsável
pelas mudanças climáticas.
Há cerca de quatro anos o Rio Grande do Norte
enfrenta uma grande seca. Segundo Espínola, os efeitos podem não ser sentidos
em Mossoró, pois atinge principalmente as cidades que ficam mais no Centro do
Estado. "Este ano choveu em Mossoró 475 mm, mas no Estado todo
praticamente não choveu. A maioria está em situação gravíssima", ressalta.
O professor explica que há cinco tipos de
classificação que ajudam a compreender o período chuvoso no Rio Grande do
Norte: muito seco, seco, normal, chuvas e muitas chuvas. Cerca de 105
municípios potiguares estão incluídos nos níveis abaixo do normal, sendo 67
inseridos na categoria de inverno muito seco e 38 tiveram período de chuvas
considerado seco. Foram contabilizadas ainda 34 cidades com período de chuvas
considerado normal, 9 classificados com chuvas e apenas Monte Alegre apresentou
muitas chuvas no período, chegando a marca 1.129mm este ano.
Espínola afirma que os períodos de seca no Estado
acontecem a cada 12 anos, em média. Os menores registros de precipitação pluviométrica
acontecem no final de uma década para outra. "A seca também está associada
às explosões solares. O ciclo solar apresentou intensas atividades entre 2012 e
2013 e deve entrar em declínio a partir do próximo ano", explica o
pesquisador.
Para 2014, a expectativa do professor é que o
período de chuvas comece a voltar ao normal, mas ainda será pouco tempo para
recuperar os anos de seca, sendo necessário mais uns dois ou três anos seguidos
de bom inverno para que aconteça uma cheia novamente.
A má distribuição da atividade pluviométrica também
é outro fator de contribui para a estiagem. Durante este ano, até o momento,
caíram em Mossoró 475mm de chuva, sendo que 200mm foram registrados em menos de
24, durante uma chuva que caiu em abril.
CONVIVÊNCIA
Para o professor do Departamento de Biologia da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e diretor do Centro de
Estudos e Pesquisas sobre o Meio Ambiente (CEMAD), Ramiro Camacho, faltam
políticas públicas mais eficientes para garantir a convivência com a seca.
"A convivência pode ser minimizada com ações
relacionadas à adaptação ao semiárido. Existem tecnologias que possibilitam
isso e que devem estar a nossa disposição", relata.
Ele acredita que a distribuição de água em lata ou
em carros-pipas não deve ser o foco para melhorar a vida de quem convive com a
estiagem. É preciso muito mais investimentos ideias que possibilitam a
adaptação como o sistema de cisternas de placas e barragens subterrâneas.
"Onde existe esse sistema a qualidade de vida das pessoas melhora
muito", afirma.
Uma das alternativas de enfrentamento à seca,
segundo Camacho, seria investir em espécies da flora e fauna locais, que já são
adaptados ao clima. O professor cita ainda o controle das queimadas, construção
de barragens, barramento de assoreamento, perfuração de poços e cacimbões,
reuso da água, entre outros como instrumentos que podem ajudar o potiguar a
conviver e se adaptar melhor ao clima dessas terras. Seria importante ainda uma
educação ambiental voltada para o convívio no semiárido.
"O Estado se dá ao luxo que a Petrobras perfure
poços e, caso encontrem água, fechem com concreto", diz. Para Camacho,
esses poços poderiam servir para atender a população local.
"Faltam políticas públicas voltadas para a
nossa realidade. Às vezes acontece de fazer ações de acordo com outra realidade
que não é a nossa. Tem que ser algo direcionado", enfatiza.
Outras alternativas seriam estimular a agricultura
familiar e o manejo sustentável da caatinga. "Temos muitos exemplos de que
isso funciona, um deles é o de produtores da Chapada do Apodi", diz Ramiro
Camacho.
O professor acredita que é necessário também um novo
olhar sobre o semiárido. "É um vício de várias gerações ver o semiárido
nordestino como sinônimo de miséria e pobreza. É importante mostrar o potencial
e defender os recursos naturais que são importantes", destaca.
A adequação do potiguar ao clima também passa pelas
fontes de energia. Para o pesquisador, a energia eólica não é uma fonte
totalmente limpa e que a solar e a biomassa seriam alternativas mais corretas,
principalmente para uma cidade como Mossoró. Com a biomassa, poderiam ser
reaproveitados restos de podas e também ajudar a diminuir o desmatamento. Já a
energia proveniente do sol é dificultada por causa dos preços das placas que
ainda não é acessível a grande população.
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