quinta-feira, 25 de junho de 2015

RN ENFRENTA A PIOR SECA DOS ÚLTIMOS 100 ANOS


Dos 167 municípios do Rio Grande do Norte 153 estão em estado de calamidade pública por causa da seca. Vinte cidades estão passando por rodízio no abastecimento de água e nove estão em colapso - com o abastecimento completamente suspenso por parte da Companhia de Águas Esgotos do Rio Grande do Norte. De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Emparn), o atual período de seca é o pior no RN desde 1911 quando a instituição começou o monitoramento pluviométrico no estado.

“Esse período de seca começou em 2012. De lá pra cá a chuva não foi suficiente para recuperar o nível dos reservatórios”, explicou o meteorologista Gilmar Bistrot. Segundo ele, a média de chuva para o RN é de 700 milímetros por ano. Em 2012, choveu 300 mm – menos de 50% da média. Em 2013, choveu 600 mm. No ano seguinte, 500 mm.  Em 2015, choveu em média 400 mm no interior do estado e o período chuvoso já acabou. “Em todos esses anos o índice de chuvas ficou abaixo da média. A consequência maior que se observa é a condição de reserva hídrica que se exauriu rapidamente”, disse Gilmar Bistrot.
Governo instituiu Gabinete de Gestão Integrada de Recursos  Hídricos

Na última semana, o governo do estado instituiu um gabinete de gestão integrada de recursos hídricos para garantir a continuidade do abastecimento nas áreas mais afetadas pela estiagem. Na primeira reunião do comitê realizada no dia 18 de junho o secretário estadual de Recursos Hídricos afirmou que a prioridade no momento é garantir o abastecimento humano. “Infelizmente alguns sistemas de irrigação já foram restritos só para a noite, mas é porque nesse momento nossa prioridade é o consumo humano".

O nível dos reservatórios do estado é preocupante. A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, maior reservatório do estado, tem capacidade para 2,4 bilhões de metros cúbicos e está com apenas 681 mil metros cúbicos de água, o que representa 28,38% da capacidade total. Uma resolução da conjunta da Agência Nacional de Águas (ANA) com o Instituto de Gestão de Águas do RN (Igarn) fixou a data de 1º de julho para que seja suspenso o uso da água da bacia Piranhas-Açu para fins de irrigação. A resolução foi publicada na última sexta-feira (19) no Diário Oficial da União e tem como objetivo garantir o abastecimento humano e a preservação dos mananciais.

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN, José Álvares Vieira, a situação é “desesperadora”. “Nós saímos do patamar de preocupação e entramos no patamar do desespero. É muito fácil dar uma canetada proibindo a retirada de água para irrigação, mas ninguém se preocupa com a situação do produtor. Claro que soluções para a garantia de água são importantes, mas também é preciso salvar os produtores rurais”, disse.

Segundo ele, os prejuízos causados pela seca são incalculáveis. “Não dá pra mensurar com exatidão o verdadeiro prejuízo porque o prejuízo é permanente. Mas nesses três anos de seca nós já tivemos perda de 90% na produção do mel e da castanha, perda de 50% na produção de carne e leite, a fruticultura irrigada teve perda de 10% da produção, e essas perdas estão aumentando”, disse.
Agricultor lamenta perda de produção com a seca

Colapso

O G1 fez séries de matérias sobre a seca no estado em 2013 e 2014. A cidade de Carnaúba dos Dantas já estava em colapso no ano de 2013. Faltava água para as necessidades mais básicas como tomar um banho. À época, a produtora de vendas Robéria Danielle Dantas, de 27 anos, contou que já não sabia mais como era um banho de chuveiro. "Não sei mais o que é tomar um banho decente. Há dois anos, só tomo banho de cuia", disse.
Em Carnaúba dos Dantas, RN, Robéria Danielle Dantas só toma banho de cuia

A situação continua a mesma na cidade. Carnaúba dos Dantas é uma das nove cidades que estão em colapso, ou seja, com o abastecimento de água por parte da Caern completamente paralisado. Nestes casos, de acordo com a Caern, a prefeitura de cada cidade assume o abastecimento da população, normalmente, por meio de carros-pipa. Ao todo, nove cidades estão nesta situação. No Alto Oeste, o colapso atinge Antônio Martins, João Dias, Luís Gomes, Paraná, Pilões, Riacho de Santana, São Miguel e Tenente Ananias.


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