Circulam em redes sociais, publicações defendendo o Nordeste, geralmente em contestação a atitudes preconceituosas e discriminatórias por parte de outras regiões para com esta porção do Brasil. Diga-se que o fato de sermos nordestinos, neste caso, não requer que mostremo-nos - a todo custo - “soldados” ferozes em defesa daquilo desnecessariamente defensável. A nossa capacidade deseja para além e, por isso, deve ser mensurada mediante o progresso social que galgarmos como povo. É óbvio que isso só se faz possível com educação, trabalho, pensamento otimista, coragem, etc.
A propósito, medíocres e inferiores são aqueles que, estupidamente, se auto-proclamam “melhores”.
Embora sendo compreensíveis “campanhas” em prol do nosdestinismo, convém entender a importância maior, primeiro, de afirmação para consigo mesmo. Em ouras palavras, quer dizer, importa construir qualidades e provar a existência de potencialidades próprias de nós, não como uma cultura isolada, mas sim como componente de uma nação que, apesar das diferenças e singularidades, constitui um só povo. De tal forma, é imperioso se livrar dos vícios da ignorância, do negativismo, da indolência concorrente ao atraso social, do pensamento mesquinho e, substancialmente, abolir com a postura autopreconceitusa – que ainda nos persegue.
Com efeito, reafirmar alguns aspectos arcaicos do Nordeste apenas pelo fato de serem tradicionalmente perpetuados e aceitos, não conduz a progressos, tampouco caracteriza ‘riqueza cultural’ a priori, pois que isto, por vezes, corrobora a permanência do status quo do quadro desconfortável em que vivemos, perante, tanto a outras regiões do Brasil desigual, como a nós mesmos.
Da cultura, aproveite-se, sim, fatores constituintes da nossa personalidade intrínseca e do nosso jeito próprio de ser, dado que cultura é, senão, apenas um elemento a mais no conjunto de uma sociedade. Nesse sentido, não cabe a exposição (quase melancólica) de aspectos tais como: da típica casa de taipa, do pote de barro, de um roceiro com sinais de sofrimento mórbido, de uma criança castrada em sua infância, conduzindo um jegue cambaleante, dentre outros, como razão de orgulho. Isso seria nos desenhar - com as próprias “mãos” - num papel de povo subdesenvolvido. Pode até ser boa a intenção; vê-se, porém, que o efeito é nada mais que equívoco. Reclamam-se outros exemplos mais significantes de ufania!
Concorde-se que ressaltar belezas naturais, modos peculiares e a figura de grandes personalidades que aqui têm raízes, também se traduz indubitavelmente em positivo. Entretanto, não basta somente isso. Ao mesmo tempo, ressaltemos-nos como sujeitos de uma história pessoal, capazes de revolucionar o universo que nos configura e de, a partir de um histórico de trabalho e do desejo inabalável de querer-mais, fazer da gente e da história nordestinas uma referência de progresso.
Também não é coerente atacar preconceituosos retaliando-os com outros preconceitos, tal como vemos. Isso não significa nenhuma mudança desejável. Mudança significa aprender a ser gente (na acepção mais plena do termo); compreender que valorizar e preservar bens de uma cultura corresponde, principalmente, a discernir seus prós e contras, optando-se por viver melhor; saber que discurso de braviedade não configura ação transformadora e, portanto, pouco interessa; assimilar a relevância do conhecimento acerca do mundo e de si mesmo enquanto “mundo”, dentre outros fatores de crescimento. Isso sim, por questão de mérito, nos levará à categoria de cultura e de povo, em tudo, respeitável.
Sejamos, portanto, ponderados. Não desperdicemos tempo e juízo, digladiando em nome do apoucamento e das desavenças em vão. Afinal, o mundo todo sabe: “antes de tudo, somos fortes”. Viva aos nordestinos!!
Messias Torres
Professor – Psicopedagogo
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