Professor da UFRN Cícero Onofre comandou um estudo para
avaliar a qualidade da água de chuva
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Uma prática
secular do homem sertanejo ganhou chancela científica. Dois projetos tocados
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Instituto Federal do
RN (IFRN) apontam que a utilização de água da chuva para consumo humano é
possível e até saudável. Segundo os estudos, desde que o primeiro milímetro da
chuva seja descartado, todo o restante possui a mesma qualidade da água colhida
nos lençóis freáticos. A UFRN adotou a diretriz
do aproveitamento de água como parte do plano diretor dos campi, e deve começar
a instalar as estruturas em 2015.
O engenheiro
civil e doutor em Recursos Naturais Cícero Onofre de Andrade Neto, do
Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Larhissa) da UFRN
comandou um estudo realizado em 2008 para avaliar a qualidade da água de chuva.
A estrutura nomeada de amostrador capta a água da chuva por meio de uma boca
com 50 milímetros de diâmetro. A água captada segue por uma tubulação de PVC e
vai enchendo armazenadores de amostras
de 20 centímetros. Cada uma delas é projetada para captar um milímetro
de chuva.
O amostrador
captou água em três pontos da cidade: no campus central da UFRN, em Ponta Negra
e na Cidade Alta. No campus, próximo ao Parque das Dunas, o percentual de
poluição é mínimo. Em Ponta Negra, a primeira chuva lava o sal – sólido mais
presente na atmosfera da região. Já no centro, os gases poluentes diminuem
bruscamente na primeira lavagem. Em
todos os pontos foi constatado que a poluição da água da chuva estava
concentrada no primeiro milímetro.
A água
captada é avaliada por três indicadores: turbidez (quantidade de sólidos),
condutividade elétrica (quantidade de sal) e PH (se é mais ácida ou básica). Os
três entram na conta para saber quão potável é a água.
Segundo o
professor Onofre, o primeiro milímetro de chuva é chamado “água de lavagem”. “A
água de chuva evapora da terra, e as coisas mais pesadas, como sais e
contaminação ficam. A água é destilada. Quando cai, o primeiro milímetro limpa
os gases poluentes da atmosfera e das superfícies receptoras (calhas e
telhados). A partir daí a água é limpa”, afirma.
Após o
amostrador, o professor também desenvolveu um sistema para captar águas
pluviais. Uma calha é a superfície receptora, que direciona a água para uma
pequena caixa projetada para receber um milímetro da chuva. Por exemplo: se a
calha tem 50 metros quadrados de superfície, um recipiente com 50 litros é
suficiente para captar um milímetro de chuva. Os outros 49mm podem ser
aproveitados.
O projeto
desenvolvido pela UFRN ainda não foi patenteado, embora publicado em diversas
revistas científicas, com a GESTA (Revista Eletrônica de Gestão e Tecnologias
Ambientais). De acordo com o professor Cícero Onofre, o projeto vem mudar um
preconceito com a água da chuva.
“Toda água
que bebemos é de chuva, o que temos agora é a oportunidade de colhê-la om
proteção sanitária. Há um preconceito de que só quem bebe água de chuva é o
povo do semiárido, que morre de sede”, afirma. Segundo ele, é uma garantia.
“Hoje está cada vez mais difícil encontrar água potável.”
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